11 novembro 2005

Almeida

... a "Roda dos Eispostos - Anno 1843".


No seguimento do "post" de 4 de Novembro "A Roda ... em Almeida", chamaram-me a atenção para o facto de este assunto ser talvez menos conhecido do que eu pensava. Admitindo que assim seja, pareceu-me indicado não só apresentar uma outra fotografia da Casa da Roda como elaborar um pouco sobre a matéria em causa.

Em primeiro lugar para dizer que, no século XIX, era aqui que eram colocados os "expostos" de Almeida. Julga-se que por esta Casa, onde se conserva em bom estado uma grande parte do recheio original, tenha passado uma parte substancial das crianças desta vila (cerca de 20%).Os "expostos" (ou "enjeitados") eram as crianças não desejadas e abandonadas à nascença por variadas razões entre as quais a pobreza extrema dos pais ( talvez a principal razão), por serem filhos de prostitutas, de mães solteiras ou de qualquer natureza ilegítima.

A "Roda", que no Brasil também era conhecida por "Roda dos Inocentes", uma designação talvez mais humana e apropriada, era formada por um cilindro giratório vertical, com uma abertura onde era colocado o recém-nascido, que rodava para o interior da casa (onde a criança seria recolhido por uma instituição protectora, normalmente uma Misericórdia ou um Convento), mantendo-se assim o anonimato dos "depositantes".



Aqui está um exemplo, a "Roda dos Expostos" do Convento de Santa Clara do Desterro, em Salvador da Baía (Brasil). Caso estejam interessados podem ver uma boa fotografia da "Roda" de Almeida, com a janela aberta, no site "Pequenos Mirandeses"

http://www.eb2-miranda-douro.rcts.pt/49/almeida.htm

(fotografia que, aliás, não cosegui trazer para aqui. Talvez algum iluminado informático me possa explicar porquê).

Em tempo (14Ago07): Ela aí está!


Um pouco de história:

Parece que o sistema da "Roda dos Expostos" apareceu no que hoje é a Itália, durante o século XIII, tendo o seu uso aumentado durante os séculos seguintes até estar praticamente generalizado em toda a Europa no século XVII. Em Portugal, a formalização do apoio às crianças abandonadas aconteceu através das Ordenações Manuelinas (1512-1521) embora a tradição de as ajudar de alguma forma já existisse durante a Idade Média. Foi Pina Manique que em 1758 criou a primeira "Roda" no nosso país.

De notar que este procedimento representou um assinalável progresso em relação às práticas seguidas anteriormente, no que diz respeito a crianças indesejadas. Antes de Cristo, o método mais usado (praticamente em todo mundo) era, pura e simplesmente, o infanticídio (!). Este estado de coisas manteve-se durante o primeiro milénio apesar da pressão religiosa, tendo-se tornado progressivamente menos comum e sido substituído pelo abandono (em qualquer lugar, na rua, nas feiras ou, com um pouco de sorte, na soleira da porta de alguém). A "Roda", portanto, foi uma melhoria substancial em relação ao passado, pois as crianças passaram a ser entregues a uma instituição protectora, embora as condições de sobrevivência não fossem brilhantes devido a deficiências alimentares e higiénicas. O índice de mortalidade chegava a atingir os 90%. Imagine-se o que não seria antes.




1 comentário:

Cristina Costa disse...

É sempre bom passar por aqui...aprende-se sempre qualquer coisa!
São viagens à história e a estórias acompanhadas de belas fotografias.